quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

CRONICA DE TERE PENHABE



S.D.A.D.I.A. ... ou seria paixão?de Tere Penhabe
Eu acordei decidida a mudar de vida...Começaria por aquele retrato na parede, porque ele tem me incomodado sobremaneira.Aqueles olhos sempre sorridentes, não me deixam ver que há muito não me sorriem mais, não falam nada, não marcam presença. Sumiram do "pedaço", como diria a garotada."Desce daí moço, vais para o cesto arquivo!" ... Foi o que pensei, mas nesse momento invadiu-me a memória, lembranças da última vez que eu presenciei esse olhar e sorriso. Ah! E como foi bom!Peguei o álbum de fotos e fiquei a folhear... Era tão excitante partilhar da sua timidez, naquele misto de magia e expectativa.Eu sempre gostei de homens tímidos, são mais intensos. Como se em vez de gastarem suas energias levianamente, elas ficassem todas à disposição da corajosa que conseguisse arrancá-las à força.Eu tinha também alguns bilhetes... onde estavam mesmo?Perdi mais ou menos meia hora tentando achá-los, e ao ler o primeiro, já senti que ia ser difícil despachar o moço, sem um bom macumbeiro.Ah! Como ele me encantava com os seus bilhetes! Às vezes era sisudo demais, quase frio... mas outras vezes, simplesmente cativante!E sempre que chegava algum, eu ia pra cama sonhando com anjos que tocavam harpa para mim, nas portas de marfim do sétimo céu."Sétimo Céu" era o nome de uma revista do meu tempo, e eu sempre me perguntara qual seria o significado da expressão... agora eu sabia: sétimo céu era a pós-leitura de algum bilhete daquele amor bandido que chegara na minha vida, além de atrasado, mal resolvido...- Céus! Eu preciso comer alguma coisa... (descobri em tempo.)Parei para preparar um lanche, e sentei-me à mesa rodeada de fotos e bilhetes do desalmado.Em alguns momentos, ajudava na digestão, quando a alma dançava valsa lembrando alguma passagem boa e o estômago acompanhava o rítmo.Em outros , virava um verdadeiro "rock pauleira" , com aquele estridente e teimoso: tibum tibum tibum, ao lembrar do seu descaso com os meus telefonemas, telegramas, e-mails...- Eu preciso mudar de vida, sim! Mas hoje não vai dar pra ser... concluí. E concluí mais...Cinco da tarde! Céus! O que eu fiz o dia inteiro?Aquele sorriso idiota continua lá na parede, como a zombar, impertinente, da minha falta de coragem... ou seria organização?No corredor, a escada e caixas de álbuns e lembranças, tanta coisa espalhada... assim não é possível!Será que eu ainda estou apaixonada?Ou simplesmente acometida do mal de S.D.A.D.I.A., uma novidade da medicina que uma amiga me apresentou hoje? Aliás, uma amiga que eu sempre pensei que tinha uns quarenta e cinco e hoje me disse que tem oitenta e dois anos... magias da internet!Pois é... S.D.A.D.I.A. "Síndrome de Desordem da Atenção Deficitária na Idade Avançada"... hummmmmmmmm parece imponente! Até vou oferecer esta crônica displicente a essa minha amiga do coração. Não posso dizer o nome dela, porque apesar dos homens acharem as mulheres muito complicadas, é pura falta de competência. Porque mulher é a ciência mais exata que existe no mundo, de transparência e coerência infindas.Nesse caso por exemplo, existem unicamente duas alternativas para agradar uma mulher: - Você escolhe entre dizer o nome ou a idade. As duas coisas juntas, jamais! Causaria pane sentimental e psicológica, desencadeando carência afetiva. Simples assim...Mas mesmo que S.D.A.D.I.A soe com certa imponência... pensando bem, eu ainda prefiro a paixão! E em qualquer caso, radicalizar é sempre recomendável porque o tempo urge.Mas amanhã eu decido, afinal, mudar de vida é como regime: sempre pode ficar pra segunda-feira...
Tere PenhabeSantos, 25/10/2008

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