segunda-feira, 2 de abril de 2012

COMO NOS SEPARAR DAQUELES QUE AMAMOS


Como nos separar daqueles que amamos


:: Bel Cesar ::

Quando aqueles que estão morrendo são nossos entes mais queridos, a dor da separação é intensa.

Certa vez, escutei Sogyal Rinpoche dizer: Só aceitamos nos desapegar de alguém, quando sentimos ter recebido tudo que gostaríamos por meio desta pessoa. Ou seja, só nos desapegamos daquilo que estamos plenamente satisfeitos.

É mais fácil nos separarmos daqueles que sentimos amar e por quem nos sentimos amados, pois, desta forma, preenchidos de amor em nosso interior, não vivenciamos a separação como uma perda de nossa capacidade de amar. Desapego, neste sentido, significa estarmos satisfeitos, nutridos de amor espiritual.

No entanto, em geral, temos dificuldade de entrar em contato com esta forma de satisfação, porque nos concentramos mais no que ainda gostaríamos de receber, do que no reconhecimento do prazer já recebido. Por isso, apesar da satisfação não surgir através da análise racional de um fato, mas, sim, da experiência genuína de um sentimento, muitas vezes temos que recorrer à análise mental para despertarmos a força curativa do sentimento em nossa psique.

Quando somos tocados por essa forma elevada de amor, desejamos que a pessoa amada seja realmente feliz: com ou sem a nossa presença.

No entanto, em geral, nosso amor é mais emocional que espiritual: amamos na carência, isto é, nos alimentamos do sentimento de que amar é sentir necessidade do outro. É comum pensarmos que o outro irá reconhecer que nos ama somente se nos afastarmos e o fizermos sentir nossa falta, ou seja que só seremos valorizados na ausência. Ao contrário do que se pensa, porém: amar é não sentir falta!

Quanto mais soubermos reconhecer nossa capacidade de amar, menos dependentes estaremos da presença física da pessoa amada. A prova que esta premissa é verdadeira está no fato de que continuamos a amar alguém mesmo após sua morte.

A dinâmica do amor continua em nosso interior: continuamos a nos dedicar à pessoa amada mesmo depois que ela já se foi. Rezamos por ela, e muitas vezes passamos a nos dedicar a finalizar seus projetos e realizar seus desejos.

Enquanto escrevi parte deste texto, acompanhei os quatro últimos dias de vida de Adriana, amiga de muitos amigos, uma psicanalista prática e serena ao mesmo tempo. A sua aceitação diante da terminalidade foi exemplar. Deixou-nos muitas vezes surpresos e ao mesmo tempo confiantes de que ela, apesar da forte dor física, estava com a mente preparada para falecer. O amor de todos por Adriana era evidente: cada um, a seu modo, demonstrou estar disposto a fazer o que fosse necessário para contribuir pra seu bem-estar.

Nos dias que sucederam sua morte, Márcia, sua grande amiga com quem compartilhava o apartamento, me disse: A melhor experiência que tive depois da morte dela, foi quando arrumei o seu quarto, retirando todo o material do home care, fazendo a cama, colocando incenso, tocando os mantras no som.... ali eu tive pela primeira vez uma sensação de paz, por estar continuando a cuidar da Adriana. Cuidar da energia do quarto dela me deu o conforto necessário para poder acolher a sua morte.

Assim como explica Robert Sardello em seu livro Liberte sua Alma do Medo (Ed. Fissus): No amor espiritual, o bem da outra pessoa vive dentro de cada pensamento que me vem, quer o pensamento tenha ou não a ver com ela. O termo espiritual para essa qualidade é intento, que carrega um significado muito mais sutil do que quando dizemos que temos a intenção de fazer algo. Intento carrega o sentido de que alguma coisa mantida no pensamento se tornou tão real como se estivesse literalmente presente – não presente à minha frente, mas em todos os lugares dentro de mim. No amor espiritual, aquilo que se torna tão absolutamente real é a qualidade espiritual da outra pessoa, sentida no intento de ser orientada unicamente para o bem da outra pessoa. Na vida diária, o aperfeiçoamento do amor espiritual se concentra nos pensamentos que temos em relação à outra pessoa. Esses pensamentos não são iguais àqueles que surgem da saudade de alguém, da lembrança de algo que fizeram juntos no passado ou de pensar sobre o que a pessoa possa estar fazendo no momento. No amor espiritual, não necessariamente pensamos na outra pessoa, ao contrário, a outra pessoa, como espírito, tornou-se completamente entrelaçada à minha existência de modo que, mesmo sem perceber, ela está comigo a cada momento, de uma maneira que acentua a minha própria liberdade individual em vez de impedi-la.
Texto extraído do livro Mania de Sofrer de Bel Cesar (Ed.Gaia)

VIDA AFETIVA E SA'UDE


VIDA AFETIVA E SAÚDE

Texto: Marilene Cabello di Flora

A saúde dos nossos sentimentos
No centro da reflexão sobre a saúde, encontra-se a temática das maneiras como o indivíduo se relaciona consigo mesmo e com o mundo social a que pertence, enquanto ser afetivo, que experimenta e gera prazer.

Promover a saúde equivale a condenar todas as formas de conduta que violentam o corpo, o sentimento e a razão humana gerando, conseqüentemente, a servidão, a perda da liberdade e a cristalização da angústia.

Diante deste quadro, sentimentos de indignidade, inutilidade e depreciação tomam conta de nossa mente, gerando sofrimento e perda de sentido em relação ao trabalho e à vida.

Diante da menor dificuldade, sentimo-nos impotentes, paralisados como se nosso cérebro e músculos estivessem adormecidos.

A vida, nestas circunstâncias, perde o seu sabor e todas as atividades para as quais somos chamados em nosso cotidiano tornam-se fardos muito pesados em relação à nossa fragilidade.

Cuidado! Esta é a rota da depressão.
Livremo-nos dela, através do cultivo da vida saudável que implica o despertar das emoções, sejam elas positivas ou negativas. É o agir com mais coragem e audácia, quando a sensação de impotência se transforma em energia e força para lutar.

O fundamental, para o resgate da vida saudável, é a mudança na relação entre a pessoa e o mundo.

Saúde, segundo Dejours é a possibilidade de ter esperança e potencializar esta esperança em ação. Por isso, constitui-se num processo que diz respeito à convivência social e à vivência pessoal.

As necessidades fundamentais ao desenvolvimento do homem, no sentido de alcançar a plenitude da saúde humana, são: o pensar, o agir, o imaginar e o amor.

Na promoção de saúde, não basta apenas ministrar medicamentos ou ensinar novos conhecimentos e padrões comportamentais. É preciso atuar nas necessidades e emoções que mediam tais conhecimentos e práticas, isto é, na base afetiva do comportamento.

Em quase todas as doenças, encontram-se relações curiosas entre o que se passa na cabeça das pessoas e a evolução de sua doença física.

Todos já experimentamos situações emocionalmente positivas, quando parece que compreendemos o mundo e nos sentimos tocados pelas fadas madrinhas da sabedoria; porém, também temos experimentado situações emocionalmente negativas, nas quais prevalece a confusão. As coisas não parecem ter nem pé nem cabeça e é difícil desenrolar a informação com o objetivo de entendê-la.

Na verdade, nossos sentimentos são o sexto sentido, o sentido que interpreta, organiza, dirige e resume os outros cinco. Os sentimentos nos dizem se o que estamos experimentando é ameaçador, doloroso, lamentável, triste ou alegre.

A pessoa que carrega consigo muita raiva não apaziguada, provavelmente achará o mundo que encontra também raivoso e assim perpetuará esse sentimento negativo.

Quando perdemos o contato com os nossos sentimentos, perdemos o contato com nossas qualidades mais humanas, perdemos saúde.

Os sentimentos são a maneira como nos percebemos. São nossa reação ao mundo que nos circunda; portanto, compreender nossos sentimentos é compreender nossa reação a este mundo. É entender nossa vida emocional e afetiva como fonte de equilíbrio ou desequilíbrio, de saúde ou de doença.

Os sentimentos podem ser disfarçados, negados, racionalizados, mas um sentimento doloroso não se retirará enquanto não tiver percorrido sua trajetória natural. Emoção e afeto são, portanto, sentimentos que apenas se diferenciam em grau de intensidade.

As emoções e os afetos

As emoções têm uma forte expressão corporal, uma base fisiológica inata, segundo alguns autores. São sentimentos passageiros, pressionados pelos acontecimentos e pelas ansiedades que se acumulam durante o transcorrer da convivência grupal. Requerem um constante esvaziamento ou expressão. Podem desencadear desestruturação ou alívio. Assim, uma explosão emocional como o choro, por exemplo, depois de uma reprimenda ou discussão, pode criar alívio passageiro, porém, mais tarde, pode deixar um rastro de culpa pela sensação de ter "manchado" a imagem.

Já os sentimentos mais duradouros, como a afetividade, por exemplo, significam que uma pessoa está implicada com algo ou alguém e este fato pode se constituir desde emoções simples até os sentimentos mais complexos que caracterizam a própria personalidade do indivíduo.

Afeto constitui-se no amplo espectro de sentimentos associados à história das relações. Estrutura o entrelaçamento das subjetividades pessoais, sejam as atitudes solidárias, as antipatias, os enfrentamentos, as lealdades ou as oposições. O poder do afeto é a possibilidade de determinar as ações, as condutas, os pensamentos que se terá diante desta ou daquela pessoa.

A criação do vínculo afetivo leva tempo. Quer dizer, é necessário compartilhar história para que os laços afetivos se solidifiquem.

Os fatores afetivos implicam, num nível mais profundo, o aprendizado de formas adequadas para expressar uma variada gama de sentimentos e emoções.

Outro aspecto importante da dimensão afetiva são os afetos disfuncionais que interferem na interação social. Entre eles estão a ansiedade e a depressão. Na base destes afetos, está o sentimento de perda, sendo que os mais importantes são: a perda de um grande amor, a perda do controle e a perda da auto-estima.

Dentre estas perdas, a mais significativa é a da auto-estima, responsável pelo bloqueio das idealizações do nosso Ego.

Como sabemos, a auto-estima é a dimensão afetiva do autoconceito, implicando um sentido de eficiência pessoal e um sentido de autovalorização.

Segundo Reasoner, a auto-estima se refere a um sentido de auto-respeito, confiança, identidade e propositividade do indivíduo. Sua presença permite identificar os indivíduos bastante produtivos daqueles que fracassam, desistem ou sucumbem às drogas e à bebida como um tipo de escapismo.

Os indivíduos de elevada auto-estima revelam um acentuado grau de aceitação de si mesmos e dos demais. As pessoas de elevada auto-estima se sentem seguras em seu ambiente e nas suas relações sociais. Revelam um sentimento de pertença e de vinculação aos outros.

Quando enfrentam desafios ou problemas, reagem com confiança e geralmente são bem sucedidas. Sentem-se orgulhosos de si mesmos e se responsabilizam pelos próprios atos. Em contraste com elas, estão os indivíduos que apresentam baixa auto-estima: são medrosos e não se arriscam por temer o fracasso, preocupam-se com o que os outros pensam deles ou de seus atos e geralmente não são capazes de fazer frente aos desafios.

Pessoas que possuem baixa auto-estima, embora saibam o que fazer para atingir certas metas em uma situação social, nem sequer tentam porque se sentem incapazes.

A perda verdadeiramente mais difícil de aceitar é aquela que faz o indivíduo se enxergar através de si mesmo e se constatar tão carente de recursos. Portanto, o primeiro passo para lidar com nossas perdas é admitir nossa fraqueza e vulnerabilidade diante dos reveses da vida.

Em segundo lugar, devemos nos posicionar francamente diante daquele ou daquilo que magoa; a mágoa drena nossas energias; portanto, precisamos compensar esta drenagem dirigindo nossos sentimentos negativos para fora de nós mesmos. Deixemos que nossa mágoa se torne problema da pessoa que a provocou.

Em todos os casos, é importante colocarmo-nos diretamente em contato com a dor e o prazer da vida, com nossos sentimentos e experiência como realmente são, pois isto é o que nos dá a liberdade de fazer um ajuste mais realista e positivo em relação ao mundo.

Em suma, magoa-nos perder algo importante; porém, magoa-nos muito mais fingir de outra maneira.

Coloquemo-nos diante da realidade criticamente, esperando dela apenas aquilo que ela pode lhe oferecer. Esperar mais do que isto só nos predispõe a sermos magoados de forma ainda pior, desnecessariamente.

Em todo momento, portanto, estejamos atentos a nós mesmos, pois, ao menor descuido, voltamos a adormecer e a nos tornar suscetíveis a novos desenganos.

Aos que nunca nos apreciaram, aquela crise afetiva que foi um vendaval em nossos projetos de vida, aqueles ideais que nunca pudemos realizar, deixemos todos à paz dos mortos e nós vivamos.

Se as inevitáveis perdas diárias às quais o indivíduo está sujeito são as responsáveis pelas diferentes perturbações de ordem física e psicológica vivenciadas por ele, a promoção de saúde consistirá em aprender a lidar com estas perdas diminuindo o grau de ansiedade e perturbação mental desencadeadas por elas.

A regra de ouro é a seguinte: deixar que as coisas sejam o que são. Uma vez que chegamos à conclusão de que não há mais nada a fazer de nossa parte, e que os fatos seguem paralelamente ao nosso lado sem nosso consentimento, a razão aconselha aceitá-los com toda a calma, quase com doçura.

Aceitar significa admitir, sem irritação, que o outro seja tal como é, que as coisas sejam como são. Em lugar de nos irritarmos, deixemos que cada coisa, uma por uma, seja.

Desta forma, transformaremos os inimigos em amigos e secaremos inúmeros mananciais de sofrimento recuperando a paz e a saúde física e mental.

Sexualidade e afeto: o grande desafio

A sexualidade é uma dimensão fundamental do ser humano. Diversos autores defendem a tese de que a sexualidade humana é uma dimensão totalizante e integradora do ser, apresentando diversos níveis:

1) o nível físico que se exprime através dos sentidos;

2) o nível afetivo, que se exprime pelos sentimentos.

A sexualidade é algo que se aprende em cada emoção vivida com intensidade, em cada vínculo em que a intimidade abre caminho e se faz presente.

O encontro amoroso, aventura misteriosa e mágica, na relação heterossexual, tem início, sobretudo, pela veia das emoções.

Diante das emoções, o intelecto se debilita e sentimo-nos soltos, desorientados, perdidos.

E não existe nada mais fascinante que o sexo. Nascemos com nossa sexualidade e temos a nossa existência inteira para aprender a lidar com ela.

Quanto antes aceitarmos a nossa incompletude enquanto seres sexuados, onde algo está faltando, mais rapidamente o caminho se abre para nos conduzir ao encontro do outro. Desta forma, o ser humano nasce com a “possibilidade” e a “condenação” de buscar e encontrar a outra metade que o complete.

Desde crianças, estamos sempre em busca de afeto o que nos impele ao encontro do outro que é vital.

Neste aspecto, haveria alguma receita que nos levasse rumo à felicidade a dois? Haverá regras absolutas nesse “jogo do encontro” a ser cumprida pelos parceiros?

A psicanalista e psicóloga clínica Sheiva Cherman, quando consultada sobre estas questões, oferece algo basicamente geral para os seus leitores em sua obra Sexo e Afeto. (1996).

Mensagens para melhorar a difícil arte do encontro:

1) O amor é o combustível que nos faz sentir vivos e vibrantes.

2) Qualquer busca cessa mediante o encontro.

3) Só o amor verdadeiro possibilita o encontro entre as pessoas e este é, em essência, sábio, sedutor, atraente, sensual, recíproco, doação, edificante.

4) Só o amor verdadeiro dá origem ao nós que exige aceitação, concessão e renúncia.

5) Ingredientes do amor verdadeiro:

- respeito por si próprio e pelo objeto amoroso;

- honestidade de propostas originando força e segurança para o casal;

- sensualidade que deverá resistir a novos estímulos, cansaço e desencantos, mantendo o desejo sempre desejante;

- compreensão em profundidade dos antagonismos e fraqueza do outro;

6) Comunicação a mais honesta possível. O mais importante não é o que falamos, mas como falamos com o ser amado.

7) Amar é o eterno exercício da sabedoria quanto à conjugação dos verbos: eleger, acatar, respeitar, ouvir, falar, calar, comungar, revelar, intervir, aquecer.

8) A privacidade de uma das partes do casal deve ser preservada como um direito e não como sinônimo de solidão.

9) A firmeza deve estar sempre presente na vida do casal não se confundindo com a agressividade.



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Aluna do Programa de Doutorado do Curso de Pós-Graduação em Comunicação da FAAC/UNESP, disciplina Comunicação em Saúde. Ministrada pelo Prof. Dr. Murilo César Soares.

PERDAS.



- Perdas Inevitáveis
- A Dor do Amor

Saudade, palavra paradoxal e de muitos significados. Encanta, desencanta e se manifesta através de sentimentos como a tristeza, angústia, solidão e até mesmo a alegria. Ela está presente em nosso dia-a-dia, nas lembranças do tempo passado, das pessoas que amamos e dos lugares de onde viemos e por onde passamos. Ela é poesia, música e canção, e está inserida nos momentos de dor e felicidade do ser humano. Para uns, é uma palavra triste, para outros é apenas um sentimento que faz parte do nosso processo de crescimento. A saudade traz dissabores, mas resgata em nossa memória alegrias já esquecidas. Para entender a saudade, é preciso refletir sobre as várias perdas que sofremos em toda nossa vida e que começam a partir do próprio nascimento.

Perdas Inevitáveis

Segundo a pesquisadora norte-americana Judith Viorst, autora do livro "Perdas Necessárias", as perdas que temos durante nossas vidas não são apenas pela morte das pessoas queridas. Elas incluem, além das separações e partidas daqueles que amamos, a perda consciente ou inconsciente de nossos sonhos, expectativas impossíveis, ilusões de liberdade e poder, ilusões de segurança e a perda do nosso próprio "eu" jovem. E essas perdas, diz a pesquisadora, são "universais, inevitáveis e inexoráveis, porque para crescer temos de perder, abandonar e desistir". Todas as nossas perdas estão relacionadas com a "Perda Original, que é a conexão mãe-filho, que pode ter reflexos no decorrer de toda nossa vida. Se as separações não forem bem resolvidas, ressalta, "elas podem deixar cicatrizes emocionais no cérebro, porque atacam a conexão humana essencial: o elo mãe-filho que nos ensina que somos dignos de ser amados. Não podemos nos tornar seres humanos completos sem o apoio dessa primeira ligação".

Estudos mostram que as perdas na primeira infância nos tornam mais sensíveis e vulneráveis às perdas que sofreremos mais tarde. "Assim ao longo da vida, nossa resposta à perda de uma pessoa da família, a um divórcio, à perda de um emprego, podem ser causas de depressão grave - a resposta daquela criança desamparada, desesperançada e zangada", ressalta a pesquisadora.

De acordo com alguns filósofos, a morte é a perda mais aterradora, aquela que acompanha o ser humano desde a infância, quando se descobre o inevitável. À tristeza profunda pela morte, especialmente a repentina e prematura, somam-se outros sentimentos como a culpa e o inconformismo. Não há respostas fáceis para conviver com as perdas provocadas pela morte, mas segundo os especialistas, não se deve ignorá-la, sufocar as lágrimas, nem abafar o luto.

O envelhecimento é também uma das mudanças mais difíceis para o ser humano. Aceitar as perdas provocadas pela idade, requer uma avaliação do passado, que envolve os aspectos positivos e negativos de toda nossa vivência, e ao mesmo tempo, há de se considerar os desejos e as possibilidades para o futuro. É nesta fase, segundo a pesquisadora Judith Viorst, que a preocupação com a morte e a destruição estão mais presentes, e o homem tem a sensação mais profunda da própria mortalidade e da morte iminente dos outros.

A capacidade de mudar e crescer na velhice está ligada a própria história de cada pessoa. Mas, a chegada da terceira idade pode dar origem a novas forças e novas aptidões não acessíveis nos outros estágios.

A Dor do Amor

A dor da saudade, os encontros e desencontros da vida afetiva sempre estiveram demonstrados nas canções e poemas do nosso cotidiano. As perdas são universais e constantes, e sempre nos ensinam a alcançar a maturidade e o equilíbrio psicológico.

A saudade decorrente de uma grande perda pode nos levar a desequilíbrios emocionais irrecuperáveis. No amor, muitas pessoas se tornam totalmente incapazes para estabelecer um vínculo afetivo por medo de amar e sofrer grandes desilusões. Outros, com medo da solidão preferem manter relacionamentos opressivos .

O amor é uma fonte de grandes prazeres, mas também de muitas dores em todas as idades. Quando as coisas estão bem, as pessoas se sentem em estado de êxtase e harmonia, mas quando o amor se encaminha na direção da dor e do sofrimento, nos sentimos totalmente abandonados e desamparados.

Segundo alguns psicanalistas, o fim de um casamento pode ser uma perda maior do que a morte de um dos cônjuges. O sofrimento, a saudade, o desespero podem ter a mesma intensidade, bem como a sensação de abandono.

É preciso ser perseverante para superar não só as perdas por amor, como todas as outras que ocorrem durante toda a nossa vida. As dores existirão tanto para os que não as suportam, como para os que as aceitam e as toleram. A vida é marcada por repetições e continuidade, mas é também aberta a mudanças, e para crescer, deve-se renunciar a muitos projetos, pois não se pode amar profundamente alguém ou alguma coisa sem se tornar vulnerável às perdas.

(BOA SAUDE)

CLARISSE LISPECTOR


"Há Momentos

Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre."

Clarisse Lispector

(They Long To Be) Close to You - Carpenters - Tradução